domingo, 25 de abril de 2010

A tecnologia nunca toma decisões

Concordo com o autor de TECNOGNOSE quando afirma que os meios de comunicação alteram o pensamento, a percepção e a experiência social:

“Assim que inventamos um novo meio significativo de comunicação - tambores, rolos de papiro, livros, galenas, computadores, pagers -reconstruímos parcialmente o eu e o seu mundo, criando novas oportunidades (e novas armadilhas) para o pensamento, a percepção e a experiência social”. (p. 5)

Contrariamente a Erik Davis não procuro “mapas imaginários” nem “referências místicas” (p. 7). Obviamente que também não me sinto “engolido” nem “a engolir” ninguém pela Internet, antes a sinto como um o espaço por excelência onde é possível o convívio de diversas culturas sem que nenhum agente seja forçado a abdicar dos traços caracterizadores da sua identidade.

O autor distingue “dois métodos básicos de codificação que definem os meios de comunicação: análogo e digital”, mas arranjando uma trama onde mistura o espírito com a alma, foge deliberadamente à exploração científica da própria História da Tecnologia, que do meu humilde ponto de vista teria maior utilidade para afastar estes fantasmas.

Na História dos Media já inscreveu o seu nome Marshall McLuhan, que distingue três grandes períodos, culturas ou galáxias. A cultura oral ou acústica, própria das sociedades não-alfabetizadas, cujo meio de comunicação por excelência é a palavra oral (dita e escutada), a cultura tipográfica ou visual (Galáxia de Gutenberg) que caracteriza as sociedades alfabetizadas e que, pelo privilégio atribuído à escrita e, consequentemente, à leitura, se traduz na valorização do sentido da vista e a cultura electrónica, de que se podem já hoje pressentir alguns sinais e que é determinada pela velocidade instantânea que caracteriza os meios eléctricos de comunicação e pela integração sensorial para que esses meios apelam.

A cada uma destas configurações ou galáxias corresponde um modo próprio de o homem pensar o mundo e de nele se situar.

De um modo talvez brutal Marshall McLuhan afirmou que “As sociedades têm sempre sido redesenhadas mais pelas características dos meios de comunicação utilizados pelos homens que pelo conteúdo da comunicação”.


A cultura electrónica não é magia e não poderá por si mesma resolver os problemas do Mundo como a pobreza extrema e catástrofe climática que se avizinha, mas deve-se reconhecer que estes já são uma herança da sociedade industrial e do equilíbrio do terror que se viveu desde o final da II GGM até à queda do muro de Berlim. Sem dúvida que a estabilidade dos valores sociais era maior durante a Guerra Fria, mas se a cultura electrónica apresenta maiores riscos para os info-excluídos, também traz consigo mais oportunidades para os mais competentes, como refere o Manifesto Internet subscrito por um grupo de jornalistas:

A Internet constitui uma infraestrutura para uma mudança social, superior à dos meios de comunicação de massa do Séc.XX: Quando tem uma dúvida, a "geração Wikipedia" é capaz de dar valor à credibilidade de uma fonte, é capaz de seguir a notícia até à sua fonte original, pesquisá-la, verificá-la e avaliá-la – sozinha ou como parte de um esforço conjunto. Os jornalistas que ignoram isto e que não querem respeitar estas competências não são levados a sério por estes utilizadores da Internet. E com razão. A Internet possibilita a comunicação directa com aqueles que eram conhecidos como receptores – leitores, ouvintes e espectadores – e permite tirar partido dos seus conhecimentos. Não são os jornalistas que sabem tudo que são procurados, mas sim aqueles que comunicam e investigam.


O nível de exigência aumentou em todas as profissões porque a concorrência está agora mais próxima em resultado da globalização das economias e do desenvolvimento das tecnologias da comunicação.

Sinceramente custou-me ler um autor que critica a globalização como se este fosse um fenómeno recente e evitável, ignorando que as próprias Cruzadas se deveriam integrar no processo. Igualmente não poderei aceitar a responsabilização da plataforma tecnológica pela possibilidade de fazer um mestrado de pantufas.

Por fim, compreendo as “reflexões tecnológicas para o barulho” de Erik Davis porque o desenvolvimento tecnológico e a competitividade económica deverão ser utilizados com imaginação como ferramentas para a construção de uma organização social e económica mais justa, que procure satisfazer as necessidades da geração actual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras. Reuniões infrutíferas entre os poderosos que transmitem a ideia de a Terra estar a caminhar desgovernada por um desfiladeiro, como a Cimeira de Copenhaga, http://copenhaga.blogs.sapo.pt/, poderão levar alguns a culpar as tecnologias pelas consequências não pretendidas das decisões. Mas a tecnologia nunca toma decisões. Quem decide são os Homens.

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