Convidar “amigos” para a nossa rede não implica à partida (embora também não exclua) a existência de uma amizade prévia. Nem implica a pretensão de a estabelecer. Quando muito, é uma porta que se abre — ler alguém, episódica ou repetidamente, pode levar à descoberta de alguém com um interesse temático coincidente.
Equivocam-se os sociólogos e psicólogos que vêem as coisas mais mirabolantes nas redes sociais, diabolizando-as ou incensando-as — muitas vezes alternadamente. Uma rede é uma rede — uma estrutura que permite contactos desintermediados com cada nó da rede, tirando nós daí o partido que entendermos. Ou mesmo tirando valor meramente da observação passiva da actividade da rede – trending, crowdsourcing.
http://pauloquerido.pt/tecnologia/quem-sao-os-amigos-nas-redes-sociais-e-como-os-contabilizar/#more-3389
As pessoas têm interesse em participar em redes pelas mais variadas razões. A complexidade do mundo actual explica a nossa impossibilidade de conhecer todos os sistemas técnicos e a necessidade de seguir os “peritos”, que pode realizar-se observando o que fazem os amigos.
Apresentando como secundário o interesse nos contactos sociais/pessoais, há redes que têm o pretexto de facilitar a aprendizagem de línguas: Busuu, Italki e Livemocha. Face à dimensão que as redes sociais adquiriram não será forçado admitir que venham adquirir expressão como fóruns de participação cívica e de expressão política. A 20 de Março, o dia Vamos Limpar Portugal foi organizado numa rede de “amigos”, mobilizando mais de 100.000 pessoas, muito mais do que conseguiria qualquer ONG. Já nas últimas eleições legislativas o PS promoveu a rede social Sócrates2009 para fazer chegar as suas mensagens a um público que não é mobilizado pelos comícios.
Apesar da bondade dos aspectos acima referidos, a observação da expansão das redes leva-me a concluir que o interesse número um das sociais são mesmo os contactos sociais/pessoais, embora a primeira regra da etiqueta seja mesmo excluir (temporariamente) qualquer interesse em contactos pessoais, o que é absolutamente necessário para o crescimento da rede virtual.
- Pergunta-se a alguém porque está no Facebook e a primeira resposta é: "porque me interessa profissionalmente, para estabelecer contactos". Como - um tipo é dentista (ou fotógrafo, ou canalizador ou advogado) e angaria clientes no Facebook? "Não, claro, que não!", respondem logo. Então? Porque têm negócios ou produtos que lhes interessa divulgar - resposta nº 2. Ah, então é uma rede de comerciantes, que aproveitam a publicidade grátis? "Bem, também não", respondem, já levemente embaraçados. Afinal, insisto, é porquê?
Miguel Sousa Tavares
Evidentemente que não podemos suportar a visão de "desgraçados" com que fomos brindados por Miguel Sousa Tavares, pois a sua perspectiva ainda não reconheceu as múltiplas sociabilidades da sociedade moderna. Por exemplo, como poderemos demonstrar a estima por colegas com quem trabalhamos efectivamente, mas que se encontram a centenas de quilómetros? Ou por quem lemos mais frequentemente? Finalmente a adesão às redes sociais foi de tal ordem que já é possível substituir os telefonemas a familiares por mensagens no FaceBook ;)
Todos sabemos que um conhecido não é um amigo. Este pressupõe uma multiplicidade e intensidade dos laços não suposta no primeiro. Compete à Sociologia e à Psicologia explicarem porque é que nas redes sociais as pessoas adicionam facilmente desconhecidos e perfis fantasma, mas recusam os colegas com os quais são obrigados a trabalhar todos os dias, transformando o Facebook numa gigantesca Disneylândia para jogarem ao Farmville em vez de utilizarem as suas potencialidades de comunicação.
Strangers You May Know: The Sociology of Facebook Friending
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