quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Como as concepções pedagógicas influenciam a utilização da web2.0


A utilização que os professores fazem do Facebook e das restantes ferramentas da web2.0 depende das suas obrigações profissionais e das suas concepções da educação, aprendidas nos estágios e na formação pedagógica, interiorizada ao longo do percurso estudantil e profissional.

Considero importante olhar para as decisões dos professores, porque serão eles, enquanto elementos centrais do processo de ensino, que determinarão as ferramentas que serão efectivamente utilizadas.

A web2.0 não é só um meio para obter conhecimento, mas um lugar onde interagir com materiais, reconstruí-los e contribuir com conteúdos (p. 18).

As ferramentas da web2.0 são empurradas para a educação pelas concepções construtivistas. Para o construtivismo (1) a aprendizagem é um processo activo de construção do saber, mais que a sua aquisição, e (2) a instrução é um processo que envolve apoio e construção, mais do que comunicação do conhecimento (p. 17).

Um professor que partilhe esta perspectiva envolve-se em aventuras de utilização das ferramentas da web2.0. Não só o Facebook, mas também blogues, wikis, sites, podcasts, vídeos, etc. Eu escrevi propositadamente que o professor se “envolve em aventuras” porque só terá esta concepção do ensino se estiver disposto a aprender em andamento com alunos, porque a tecnologia está longe de ficar estabilizada e só será dominada minimamente por quem se dispõe a fazer um constante esforço de investimento em regime autodidacta.

As concepções behavioristas e cognitivistas vêem o conhecimento como externo ao aprendente, e o processo de aprendizagem como um acto de internalização do conhecimento (p. 18). Estas teorias presumem que os alunos chegam vazios, prontos para receber “a sabedoria” que lhes será transmitida pelos professores, o que não é minimamente realista em nenhum contexto. Transportar esta visão para uma escola portuguesa corresponde a levar para o seu interior imensos conflitos, porque a actual sociedade portuguesa, caracterizada pela heterogeneidade de expressões culturais, multiculturalidade efectiva do público estudantil, diversidade de fontes de informação, a par de uma abertura sem precedentes na sociedade em geral a novas atitudes e comportamentos, já não tem estudantes dispostos a ouvir a lição magistral padronizada durante 90 minutos.

Os programas que somos obrigados a cumprir transportam a filosofia behaviorista, que define os objectivos a alcançar com verbos como definir, listar, calcular, referir. Infelizmente os objectivos behavioristas não são facilmente adaptáveis a formas elevadas de aprendizagem como a compreensão, ser criativo ou a reflexão crítica. Sempre que leccionei o 12º ano em disciplinas com Exame Nacional sentia a pressão de ter que leccionar “tudo” e nunca me atrevi a quaisquer experiências com a Internet. Mas o que fazia então nas aulas pode ser descrito como “formatação” dos alunos para obterem as melhores classificações em Exame.

Assim que fiquei liberto dos exames nacionais do 12º ano iniciei as minhas experiências com blogues, que aconselho vivamente. Por exemplo, quando o meu conhecimento dos alunos estava dependente de testes só tinha a primeira fotografia da turma a meio do primeiro período. Começando a fazer blogues percebemos as dificuldades dos alunos quando começam a escrever o primeiro post... ou até antes, para conseguirem abrir um endereço de web-mail.

Nunca utilizei o Facebook nas aulas porque realmente não tem funcionalidades para o efeito, No entanto estou atento, e já sei que é bom contar com amigos em todas as turmas. Por exemplo, sei que assim a qualquer momento poderei dar um recado rapidamente a toda a turma, enquanto se utilizasse o e-mail, muito provavelmente ninguém o abriria em tempo útil. Provavelmente alguns alunos comentarão este post no Facebook, mostrando que como veículo de comunicação para levar o que escrevo aos interessados é imbatível e a Escola não poderá esquecer-se deste aspecto.

Texto inspirado na leitura  do Capitulo 1 de e-Learning and Social Networking Handbook: Resources for Higher Education, de Robin Mason e Frank Rennie.

1 comentário:

Daniela Melaré disse...

Estimado José muito interessante suas reflexões, gostaria somente de pontuar algo:
As concepções pedagógicas vêem a Web 2.0 como um recurso e ferramenta....Existiria alguma concepção pedagógica que veria a web 2.0 como conteúdo?
Obrigada Abraços Daniela

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