Antes de comentar o Modelo Pedagógico da Universidade Aberta considero conveniente fazer algumas considerações prévias.
1. Um Modelo Pedagógico é sempre um conjunto de regras, mais ou menos discricionárias, estabelecidas pelos “peritos”, que têm como objectivo fundamental afastar os outros da sua discussão e promover a sua aceitação, contribuindo para a sua legitimação.
2. Cumpre recordar que a Pedagogia não é nenhuma ciência, mas um conjunto de práticas que variam em função das representações sociais do ensino. Não posso desenvolver este tema aqui, num texto tão curto, mas facilmente se recorda esta disciplina se integra nas Ciências da Educação porque não existe uma Pedagogia, mas pedagogias...
3. Qualquer modelo pedagógico, para garantir o seu equilíbrio e eficiência, tem de dispor de um mecanismo regulador que lhe forneça indicações sobre o seu funcionamento: a avaliação. O que avaliar? Como avaliar? A resposta a estas questões depende das concepções pedagógicas do sistema e dos professores. Sublinhe-se que o entendimento professoral da avaliação é influenciado pelas diferentes concepções pedagógicas. Por exemplo, Nova refere que no âmbito das Ciências da Educação confrontam-se actualmente duas perspectivas de avaliação: na perspectiva contextual a avaliação é inseparável do contexto em que a aprendizagem tem lugar e o seu objecto são os processos associados ao desenvolvimento cognitivo, afectivo e moral que os alunos exibem no desempenho de tarefas diversificadas de aprendizagem; na perspectiva psicométrica avaliam-se, preferencialmente, produtos da aprendizagem, recorrendo a testes que evidenciam o grau de consecução dos objectivos, os quais são precisos e quantificáveis.
4. Para não desenvolver excessivamente estes comentários preliminares iremos associar a perspectiva contextual ao paradigma do jardineiro, e a perspectiva psicométrica ao paradigma do oleiro. O oleiro molda o barro assumindo inteira responsabilidade pela formação das suas peças, tal como o professor da perspectiva psicométrica se sente responsabilizado pelos resultados dos seus alunos. O jardineiro cuida do jardim mantendo um ambiente favorável para o desenvolvimento das plantas, mas não molda as flores, que crescem de acordo com a sua natureza. O professor que assegura aos alunos um clima de aprendizagem propício com tarefas diversificadas sabe que nem todos têm as mesmas possibilidades de sucesso, mas actuando indirectamente sobre o ambiente de aprendizagem dos alunos estará provavelmente a dar mais oportunidades aqueles que têm menos ferramentas cognitivas e que mais necessitam de um quadro afectivo e moral de referência.
5. O Modelo Pedagógico da Universidade Aberta para o 2º Ciclo de Estudos difere do modelo do 1º Ciclo (Licenciaturas) num ponto fundamental. No 2º Ciclo é excluído o recurso a exames presenciais como modo de avaliação a utilizar, definindo-se o Contrato de Aprendizagem como elemento estruturante em cada UC, onde o professor "constrói um percurso de trabalho a realizar pelos estudantes, com base em recursos disponibilizados ou bibliografia indicada, organiza e delimita zonas temporais de interacção diversificada (...)" (Modelo Pedagógico Virtual da Universidade Aberta, p. 30), enquanto nas Licenciaturas é habitual um exame presencial no final de cada disciplina. Exclusivamente no 1º Ciclo entende-se necessário credibilizar o modelo de ensino virtual com uma componente presencial complementar, cuja avaliação "poderá assumir a forma de uma prova escrita (...) em algumas unidades curriculares" (Modelo Pedagógico Virtual da Universidade Aberta, p. 17). Não há nenhuma justificação teórica para esta discrepância no “Modelo Pedagógico”. O que sucede simplesmente é que relativamente aos alunos do 2º Ciclo já houve uma selecção anterior que dispensa a UA da realização de exames, enquanto ao 1º Ciclo é mais fácil chegar, e entendem que a selecção pode não ter sido suficiente para aplicar o mesmo “Modelo Pedagógico”, isto é, o modelo depende do contexto.
6. Reportando-me agora ao Modelo do 2º Ciclo este refere um conjunto de princípios que nada adiantam, além de apresentarem a lógica da avaliação online como um modelo simples, transparente e coerente:
- o Princípio da Aprendizagem Centrada no Estudante;
- o Primado da Flexibilidade;
- o Primado da Interacção; e
- o Princípio da Inclusão Digital.
Realmente referi mais sobre o modelo de avaliação no anterior ponto 5. do que referem estes 4 princípios/primados juntos, pois a realização de um exame no final da disciplina é um modelo pedagógico mais selectivo que a sua não realização.
Ao nível do 2º Ciclo a Universidade Aberta adopta o paradigma do jardineiro porque já somos crescidos demais para ser moldados, e já temos obrigação de ser autónomos.
Quando ao ensino online só se consegue conceber a avaliação centrada no estudante porque o professor neste tipo de ensino assume-se como um organizador dos processos.
A flexibilidade é uma característica da estrutura física utilizada no ensino online que existiria independentemente do primado.
A interacção idem. Os professores poderão valoriza-la mais ou menos, de acordo com as suas idiossincrasias.
O princípio da Inclusão Digital é básico numa sociedade democrática, e tendo em consideração que a Internet também pode ser utilizada para adquirir formação noutras escolas, mesmo até em Universidades estrangeiras, a Universidade Aberta deverá acautelar-se com a concorrência.
Resumindo, o Modelo Pedagógico está no entendimento da sua avaliação. No 2º Ciclo privilegia-se a avaliação continua, comprometendo os alunos com o trabalho escolar através da negociação de um Contrato de Aprendizagem em cada unidade curricular.
Utilizando a Internet a aprendizagem será sempre colaborativa, porque as pessoas contactam entre si. É inteligente definir à partida que o ensino é colaborativo para forçar mesmo a interacção e evitar o peso de colaborações ilegítimas.
Faz todo o sentido valorizar as tarefas assíncronas, única forma de não comprometer a flexibilidade de horários. Além disso, os conteúdos com valor em termos de comunicação multimédia são objectos que podem ser utilizados em qualquer momento, não são as videoconferências em directo!
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
GAMA BARROS: A NOSSA ESCOLA - José Neto, Jorge Soares, Natália Sarmento
Sinopse:
Vídeo institucional. Apresentação da Escola Secundária Gama Barros – Cacém (Portugal). Ao som de Led Zeppelin – Whole Lotta Love, tudo começa numa viagem virtual planetária através do Google Earth, o espaço desconhecido e inseguro até ao nosso destino, apresentado como um abrigo seguro. Em destaque diversas actividades da Escola envolvendo alguns serviços numa dinâmica que contagia. Somos todos Gama Barros, a nossa Escola.Guião do vídeo - Sua leitura requer a instalação do Celtx, software gratuito
Há muitas técnicas que só se aprendem fazendo. Se procurarem aquela música, provavelmente não encontrarão nenhuma versão instrumental semelhante. Encontra-se realmente uma versão para karaoke no YouTube, mas o volume está muito mais baixo que no original, parecendo uma balada diferente. Supomos, que com o som original ninguém teria garganta para cantar aquela música ;) Na falta de melhor fez-se o seu download. Para nossa surpresa, bastou dar-lhe a amplificação necessária no Audacity e obtivemos então a banda sonora semelhante ao original que tanto se procurara. ;)
Trabalho de Jorge Soares, José Neto e Natália Sarmento para Tecnologias de Produtos Multimédia, com os Profs. Joaquim Firmino e Nuno Barrela. MCEM, Universidade Aberta, 2011.
Agradecimentos em particular na captação de imagens ao Prof. António Antunes, Prrofa. Fernanda Pires e Profa. Fernanda Lima, extensivos a todos os professores, alunos e funcionários da Escola Secundária Gama Barros - Cacém.
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TPM
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Como as concepções pedagógicas influenciam a utilização da web2.0
A utilização que os professores fazem do Facebook e das restantes ferramentas da web2.0 depende das suas obrigações profissionais e das suas concepções da educação, aprendidas nos estágios e na formação pedagógica, interiorizada ao longo do percurso estudantil e profissional.
Considero importante olhar para as decisões dos professores, porque serão eles, enquanto elementos centrais do processo de ensino, que determinarão as ferramentas que serão efectivamente utilizadas.
A web2.0 não é só um meio para obter conhecimento, mas um lugar onde interagir com materiais, reconstruí-los e contribuir com conteúdos (p. 18).
As ferramentas da web2.0 são empurradas para a educação pelas concepções construtivistas. Para o construtivismo (1) a aprendizagem é um processo activo de construção do saber, mais que a sua aquisição, e (2) a instrução é um processo que envolve apoio e construção, mais do que comunicação do conhecimento (p. 17).
Um professor que partilhe esta perspectiva envolve-se em aventuras de utilização das ferramentas da web2.0. Não só o Facebook, mas também blogues, wikis, sites, podcasts, vídeos, etc. Eu escrevi propositadamente que o professor se “envolve em aventuras” porque só terá esta concepção do ensino se estiver disposto a aprender em andamento com alunos, porque a tecnologia está longe de ficar estabilizada e só será dominada minimamente por quem se dispõe a fazer um constante esforço de investimento em regime autodidacta.
As concepções behavioristas e cognitivistas vêem o conhecimento como externo ao aprendente, e o processo de aprendizagem como um acto de internalização do conhecimento (p. 18). Estas teorias presumem que os alunos chegam vazios, prontos para receber “a sabedoria” que lhes será transmitida pelos professores, o que não é minimamente realista em nenhum contexto. Transportar esta visão para uma escola portuguesa corresponde a levar para o seu interior imensos conflitos, porque a actual sociedade portuguesa, caracterizada pela heterogeneidade de expressões culturais, multiculturalidade efectiva do público estudantil, diversidade de fontes de informação, a par de uma abertura sem precedentes na sociedade em geral a novas atitudes e comportamentos, já não tem estudantes dispostos a ouvir a lição magistral padronizada durante 90 minutos.
Os programas que somos obrigados a cumprir transportam a filosofia behaviorista, que define os objectivos a alcançar com verbos como definir, listar, calcular, referir. Infelizmente os objectivos behavioristas não são facilmente adaptáveis a formas elevadas de aprendizagem como a compreensão, ser criativo ou a reflexão crítica. Sempre que leccionei o 12º ano em disciplinas com Exame Nacional sentia a pressão de ter que leccionar “tudo” e nunca me atrevi a quaisquer experiências com a Internet. Mas o que fazia então nas aulas pode ser descrito como “formatação” dos alunos para obterem as melhores classificações em Exame.
Assim que fiquei liberto dos exames nacionais do 12º ano iniciei as minhas experiências com blogues, que aconselho vivamente. Por exemplo, quando o meu conhecimento dos alunos estava dependente de testes só tinha a primeira fotografia da turma a meio do primeiro período. Começando a fazer blogues percebemos as dificuldades dos alunos quando começam a escrever o primeiro post... ou até antes, para conseguirem abrir um endereço de web-mail.
Nunca utilizei o Facebook nas aulas porque realmente não tem funcionalidades para o efeito, No entanto estou atento, e já sei que é bom contar com amigos em todas as turmas. Por exemplo, sei que assim a qualquer momento poderei dar um recado rapidamente a toda a turma, enquanto se utilizasse o e-mail, muito provavelmente ninguém o abriria em tempo útil. Provavelmente alguns alunos comentarão este post no Facebook, mostrando que como veículo de comunicação para levar o que escrevo aos interessados é imbatível e a Escola não poderá esquecer-se deste aspecto.
Texto inspirado na leitura do Capitulo 1 de e-Learning and Social Networking Handbook: Resources for Higher Education, de Robin Mason e Frank Rennie.