sábado, 12 de novembro de 2011

A problemática dos Recursos Educacionais Abertos (OER)

Para iniciar a reflexão de ARE gostaria de enfatizar que não existem Recursos Educacionais Abertos (OER ou REA) ideais, pois os diferentes actores podem exigir deles características diversas como refere David Wiley.

Do meu ponto de vista parece-me claro que os Recursos Educacionais Abertos "ideais" prestariam um serviço aos produtores de OER (no trabalho solitário ou colaborativo, estudantes ou professores, etc) quando estivessem livremente acessíveis e pudessem ser livremente adaptados aos diversos contextos locais. A minha experiência no Blogue de Economia, que já existe desde 2007 diz-me que cada vez que procuro fazer um post sobre determinado tema,o mais difícil é o primeiro, pois se já contar com outros que possa "reciclar" as tarefas serão bem mais simples. Ora se em vez de contar apenas com o meu Blogue, pudesse integrar uma diversidade de recursos acessíveis na Web o meu trabalho de produtor ficaria muito facilitado, e é esperando romanticamente que outros tenham a mesma generosidade que continuarei a contribuir num espaço aberto.

Esta nova perspectiva da partilha de em educação, emergiu das próprias características dos recursos digitais, que entra em colisão com a lógica dos recursos em papel. Efectivamente na Sociedade Industrial, um livro em papel de alguém, excluiria a sua utilização por outros, que caso o desejassem também o deveriam adquirir. Na Sociedade da Informação quando publicamos um post o mais simples é deixá-lo acessível a todos, sendo o número de utilizadores independente do custo.

  • O meio digital é muito diferente do mundo do papel. Se dermos um livro ficamos sem ele, mas indicando um endereço da Web, este pode ser consultado por milhares de pessoas ao mesmo tempo. É avanço indescritível, a primeira vez que sucede na história da humanidade.

    Assim justifica David Wiley a generosidade dos recursos abertos na Educação (ver vídeo Open Education and the Future)


O grande problema é que quando pensamos na lógica da Sociedade Industrial, iremos estabelecer uma relação entre o número de utilizadores e as receitas, e então começam-se a colocar barreiras à abertura dos OER. Em vez de privilegiar os interesses dos produtores/consumidores, David Wiley levanta a questão dos OER "ideais de que maneira?" E então, referindo-se ao retorno das editoras, questiona se os OER não serão ideais para "destruir a indústria editorial comercial educacional", entre múltiplas outras questões sobre outros intervenientes, cujo conflito de interesses serve para mostrar que não haverá um conceito de OER "ideal", mas por fim centra-se em três características deste, semelhantes às que destaquei acima (do meu ponto de vista):

1. Ser sempre, de imediato, e de acesso livre para todas as pessoas no mundo
2. Conceder ao utilizador as permissões legais necessárias para se envolver nos possíveis usos do recurso sem qualquer restrição
3. Apoiar eficazmente as metas educacionais do utilizador

Como referimos na Wiki do Grupo ADAPTAR, "adaptar recursos é uma arte inteligente porque é economicamente mais eficiente que começar sempre do zero. Não há necessidade de reinventar a roda enquanto conceito, mas adaptá-la a novas realidades". Creio que não a pena insistir neste aspecto, que será demasiado evidente.

Mas então surge outra questão: Porque é que a partilha de OER é ainda tão limitada?

A resposta que consigo dar é que a Sociedade da Informação (digital) exige que se pense e se resolvam os problemas de uma maneira diferente da Sociedade Industrial (analógico). No vídeo David Wiley's Keynote on Open Education o autor evidencia o desfasamento entre a educação e o quotidiano, mostrando que a Escola é o sector da sociedade que se está a mostrar mais retrógrado na implementação de soluções adequadas ao mundo digital. Copio para aqui uma imagem bem elucidativa que já tinha apresentado num post anterior.


Portanto os OER serão apenas um aspecto particular do panorama geral em que a Escola não está a acompanhar o Mundo.

A Escola pode dar-se ao luxo de não inovar - contrariamente às empresas - porque tem um público garantido, isto é, não precisam de inovar para não falir.

É urgente uma mudança de mentalidades, pois vivemos numa sociedade onde todos têm satisfeitas as suas necessidades básicas e as compensações estritamente financeiras não têm o mesmo valor que tinham na Sociedade Industrial. É por isso que quando a OCDE perguntou "o que é importante para um produtor de conteúdo aberto?" (Figura 4.1 do Relatório Giving Knowledge for Free - THE EMERGENCE OF OPEN EDUCATIONAL RESOURCES) concluiu que ter recursos de qualidade, ser reconhecido como criador e adaptador de recursos, saber como os recursos são utilizados e reconhecer as mudanças feitas nos recursos, são aspectos muito mais importantes que a compensação financeira. Por exemplo, eu posso desprezar os trocos tendo em consideração que já sou pago pelas aulas, onde empregando os recursos produzidos poderei contar com maior tranquilidade.

As organizações internacionais - OCDE, ONU, PNUD, UNESCO, Banco Mundial, União Europeia, EuroStat, etc. - disponibilizam imensa informação online, parte dela até com versões em português que poderá ser utilizada directamente nas escolas. Mesmo quando a informação está em inglês, nos textos técnicos, o tradutor do Google já funciona muito bem, pelo que os dados poderão ser utilizados na mesma. A "antiga" imprensa - rádios, TV's, jornais e revistas - também coloca diariamente imenso material na rede. Portanto eu diria que é relativamente simples produzir materiais em qualquer área disciplinar. Creio que Stephen Downes concordaria comigo nesta análise.

O principal obstáculo à mudança é mesmo a estrutura mental, que muda bastante mais lentamente que a tecnológica. Exemplo disso, quando recentemente fui forçado pela lei a apresentar um Relatório do Desempenho optei por o escrever no Google Sites porque seria mais simples apresentar as evidências que tenho espalhadas pela rede indicando os respectivos links. Só que como ninguém tem pachorra para ler aquele relatório, fui obrigado a imprimi-lo "para ficar arquivado no meu processo" ;) Eu acho que o link do Relatório ocuparia muito menos espaço na secretaria, mesmo acompanhado do CD, para garantir que não contariam alterações posteriores à data de entrega ;)

A actual estrutura mental dos professores observa os OER como recursos para "o ensino à distância", o que é uma forma elegante de as Escolas continuarem a funcionar num estádio de digitalização e de colaboração inferiores aos que podemos observar nas empresas e na sociedade em geral. É a mentalidade de quem define as tarefas nas Escolas que e necessário mudar, para que seja possível uma Educação Aberta.



ADAPTAR, Wiki do Grupo, (2011), Visitado em Novembro de 2011, http://are11uab.wikispaces.com/Adaptar

DOWNES, Stephen, (2010), Agents Provocateurs, Visitado em Novembro de 2011, http://www.downes.ca/post/54026

OCDE, (2007), Giving Knowledge for Free: The Emergence of Open Educational Resources, Visitado em Novembro de 2011,
http://www.oecd.org/document/41/0,3343,en_2649_35845581_38659497_1_1_1_1,00.html

WILEY, David, (2011), On OER – Beyond Definitions, Visitado em Novembro de 2011, http://opencontent.org/blog/archives/2015

WILEY, David, (2009), David WILEY's Keynote on Open Education, Visitado em Novembro de 2011, http://youtu.be/VcRctjvIeyQ

WILEY, David, (2010), Open Education and the Future, Visitado em Novembro de 2011, http://youtu.be/Rb0syrgsH6M

Fonte da ilustração: http://www.flickr.com/photos/davidwiley/6296834006/in/photostream

2 comentários:

Lina Alves disse...

Olá José,
Penso como tu que as mentalidades têm de mudar para acolher novas formas de pensar e agir em educação, mas para além das mentalidades têm de ser criadas condições nas escolas portuguesas em termos de tecnologia e formação para professores e alunos que permitam estar mais à vontade no mundo digital.

Vitória disse...

Boa tarde, José :-)

Gostaria de comentar alguns aspetos da tua reflexão:

1. Concordo plenamente: como afirma Wiley, não existe um REA ideal;
2. Adaptar é uma arte inteligente, no entanto não me parece que seja só por motivos económicos (que, como afirmas, são óbvios), mas também como afirma Siemens (2003), o princípio fundamental do progresso é “Ideas build on other ideas” (http://www.elearnspace.org/Articles/why_we_should_share.htm);
3.“A Escola pode dar-se ao luxo de não inovar - contrariamente às empresas - porque tem um público garantido, isto é, não precisam de inovar para não falir.” Será? Não será esta uma visão muito industrial? Não será este pensamento que conduz a práticas pouco inovadoras e, em alguns casos, ultrapassadas?

Obrigada pela partilha! :-)

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