sábado, 5 de junho de 2010

E-Generation: Os Usos de Media pelas Crianças e Jovens em Portugal

  • O estudo tem por objectivo: O mapeamento dos estilos de vida mediáticos de jovens e oportunidades de evolução dos mercados; caracterização dos contextos e usos de media de crianças e jovens em Portugal; e a comparação de resultados a nível europeu e global numa primeira fase (2006) entre Portugal e Catalunha e numa segunda fase EUA, Canadá; Alemanha, Singapura, Índia, Japão, China, Chile, Argentina, França, Reino Unido, Itália, Suécia e Espanha no quadro do World Internet Project.
    http://www.cies.iscte.pt/projectos/ficha.jsp?pkid=251

O relatório “E-Generation: Os usos dos media pelas crianças e pelos jovens em Portugal” responde à pergunta “como vivem os jovens portugueses?”, tentando explicar diversos aspectos do quotidiano dos jovens nascidos após 1990. Como estudam, como ocupam os seus momentos de lazer, a centralidade dos media e implicações da sua reestruturação na estrutura familiar e em termos genéricos no modo como se relacionam entre si e com o Mundo. Em razão da sua faixa etária e do “poder” que agora é atribuído aos jovens pelas tecnologias tomam particular interesses os conflitos destes com os pais e a discussão da aquisição de competências extra-escolares que a Escola poderá não estar a valorizar.

Este relatório de Gustavo Cardoso (Coordenador), sem nunca referir Marc Prensky, caracteriza para o universo da população portuguesa o seu conceito de nativos digitais, que este divulgou nos papers Digital Natives, Digital Immigrants e The Emerging Online Life of the Digital Native.

No projecto E-Generation a metodologia de recolha dados consistiu na aplicação de um questionário presencial a uma amostra representativa de jovens dos 8 aos 18 anos, mas o seu relatório inclui também resultados de outro estudo do CIES-ISCTE, “Crianças e Jovens: A sua Relação com as Tecnologias e os Meios de Comunicação”, cujos dados foram recolhidos através de um questionário aplicado online.

(...)

O erro da auto-selecção, referido pelos autores como característica comum a todos os inquéritos online, pode ser ultrapassado mediante a atribuição de códigos aos elementos da amostra construída pelo investigador. Por exemplo, a minha escola está a aplicar um questionário online, mas só quem recebeu o respectivo código tem possibilidade de responder http://framework.anotherstep.pt/index.php?id=130

O estudo datado de 2007 é omisso quando ao recente desenvolvimento das redes sociais e ao declínio da popularidade dos blogues entre os jovens, mas compreende-se facilmente que estas cumprem mais eficazmente as funções de comunicação desejadas pelos jovens. Trocar comentários e ver fotos dos amigos é muito mais simples no FaceBook que nos blogues.

Duvido bastante que apenas dentro daqueles que têm acesso à Internet, apenas 31,5% utilize algum serviço de mensagens instantâneas (p. 92), porque pela minha experiência o MSN será mesmo a primeira aprendizagem de muitos jovens, que o sabem utilizar de diversas maneiras, até escondido numa janela do browser para escaparem ao policiamento dos pais e dos professores. O reduzido número dos que indicam utilizar estes serviços pode resultar da sua estigmatização.

A utilização da Internet pelos jovens decorre num clima de ausência de controlo por parte dos pais e dos professores, que realmente desconhecem as actividades que os jovens têm geralmente sozinhos no Mundo online. Não posso deixar de considerar significativo que os pais não conheçam o conteúdo do mail dos jovens nem acedam ao histórico dos respectivos browsers. Já agora, é igualmente significativo que neste estudo se tenham esquecido de perguntar pelo histórico dos programas de mensagens instantâneas! Conhecer o software e gastar alguns minutos a verificar a utilização que os jovens fazem da Internet permitiria aos pais e aos professores um conhecimento mais aprofundado dos jovens, talvez vivessem mais tranquilos e não precisassem de lhes impor restrições que dão frequentemente origem a discussões familiares e conflitos nas turmas. Desconhecendo as ameaças reais, pais e professores acabam por estabelecer proibições arbitrárias de acordo com as representações da utilização “saudável”.

Gostaria de dizer que controlar os jovens, conhecendo o conteúdo dos seus mails, os sites que visitam, as conversas que têm pode não ser uma tarefa fácil! O jovem pode ter outra conta de mail, pode navegar anonimamente em alguns momentos, e pode não gravar determinadas conversas! Isto é, o controlo das actividades realizadas na Internet pode tornar-se um jogo do gato e do rato em que vencerá quem tiver mais conhecimentos técnicos! Dito de outra maneira, se querem conhecer as actividades dos jovens deverão acompanhá-los mesmo em vez de os deixarem entregues aos computadores!

Neste contexto costuma surgir o argumento da falta de tempo dos pais para acompanharem os jovens, porque têm de trabalhar. Pelo menos é importante que reservem o tempo suficiente para escutarem os jovens participando na sua socialização, onde as ferramentas da comunicação desempenham um papel cada vez mais importante. Porém muitos dos fantasmas que frequentemente amedrontam pais e professores não têm geralmente justificação porque os jovens preferem relacionar-se entre si. Não quer isto dizer que pais e professores se possam desobrigar das suas tarefas educativas. Estou convencido que um jovem que disponha de adultos dialogantes, com os quais possa contar para aprender a utilizar a Internet, ficará facilmente consciente dos seus perigos e das suas ameaças. Estes jovens utilizarão a Internet eficazmente nas tarefas escolares e no seu quotidiano, bem como a Internet poderá ser mais um vínculo gerador de relações mutuamente compensadoras. Neste caso os adultos conservariam a sua autoridade, porque demonstrariam conhecer a tecnologia. Infelizmente, as coisas não são assim na generalidade dos casos.

NOTA
Este post apresenta apenas o início e a conclusão do trabalho.

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